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Diamantina universal

Foi no início do século XVIII que bandeirantes à procura de pedras preciosas se instalaram às margens de um córrego para dar origem a um dos mais importantes núcleos mineradores de todo o período colonial brasileiro. O aspecto escuro e enlameado daquelas águas acabou por dar nome ao novo arraial: Tijuco, palavra tupi-guarani para designar lodo, lama. Aos poucos, o povoado ganhou residências, igrejas e confrarias. Em 1838 foi elevado à condição de cidade e passou a se chamar Diamantina.

O primeiro diamante do Tijuco teria sido encontrado por volta de 1714, na lavra de um faiscador, junto à Serra da Lapa. Mas a comunicação oficial à Coroa Portuguesa somente foi feita quase duas décadas mais tarde. Entusiasmados com o potencial do Tijuco e longe da fiscalização da metrópole, garimpeiros trabalharam por cerca de 15 anos livres do rígido controle de Portugal.

Em 1729, a chegada cada vez mais intensa de aventureiros atraídos por boatos sobre a riqueza da região, obrigou o governador da capitania das Minas, Dom Lourenço de Almeida, a admitir oficialmente a existência dos diamantes. A partir daí, foram instituídos os severos regimentos reguladores de mineração e distribuição de pedras, que culminaram no esgotamento das minas para o abastecimento dos cofres portugueses.

Patrimônio Cultural da Humanidade

Pela Estrada Real, toneladas de ouro e diamante eram transportadas para os portos de Paraty, e, mais tarde, do Rio de Janeiro. Em navios, toda a riqueza mineral de Diamantina era escoada para Portugal.

Se na primeira década do século XVIII, o arraial do Tijuco viveu seu período áureo, apenas algumas décadas depois, a decadência econômica chegou e os moradores da região foram obrigados a encontrar fontes alternativas de renda, como a agricultura e o comércio.

Quase três séculos depois, Diamantina não esbanja ouro nem diamantes, mas continua a exibir, em cada esquina, riquezas de valor incalculável que resistiram ao tempo e à ação do homem.

Quem visita a cidade se encanta com a beleza e a força da arquitetura colonial presente nos casarões, igrejas e praças. As ruas estreitas com calçamento pé-de-moleque, os charmosos becos e o imponente casario histórico desenham minuciosamente a paisagem do antigo Arraial do Tijuco. Ao redor, a imensidão da Serra do Espinhaço dá o toque final.

Toda essa opulência aliada à singularidade do artesanato, das crenças populares e dos personagens que fizeram a história de Diamantina, deu à cidade um dos primeiros títulos de patrimônio histórico concedidos a cidades brasileiras pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1938. Décadas mais tarde, em 1999, foi a vez da Unesco reconhecer a importância do acervo de Diamantina, elevada então a Patrimônio Cultural da Humanidade.

Arquitetura religiosa

São pelo menos 12 capelas e igrejas, quase todas em estilo barroco, e outras centenas de edificações erguidas durante os ciclos do ouro e do diamante. A Igreja do Rosário é o mais antigo exemplar da arquitetura religiosa de Diamantina. Ex-capela dos pretos, foi erguida em 1728 e ainda guarda pinturas a bico de pena, preciosos objetos sacros e imagens laminadas a ouro, tudo original da época de construção.

Em estilo barroco, a Igreja Nossa Senhora do Carmo é a mais rica da cidade. Erguida em 1765 por ordem do lendário contratador de diamantes João Fernandes de Araújo, ela abriga um órgão folheado a ouro, usado por um dos maiores músicos sacros da América Lática no século XVIII, o compositor e organista José Américo Lobo de Mesquita. Sua requintada ornamentação interna levou cerca de 20 anos para ser concluída. Na sacristia, apóstolos pintados em vidro e imagens originais de Santa Tereza, Santo Elias e Nossa Senhora das Dores. Um detalhe excepcional é a torre que, segundo a lenda, foi construída na parte de trás da igreja para não incomodar o sono de Chica da Silva, amante de João Fernandes.

Outra edificação religiosa que merece destaque é a Igreja das Mercês. Construída pelos crioulos, que não se identificavam com a Irmandade do Rosário, ela possui imagens antigas e objetos valiosos como a custódia de prata, datada de 1792 e lâmpadas de prata de 1682.

Traços da arquitetura árabe

Quem vai a Diamantina também não pode deixar de conhecer a casa de um de seus moradores mais ilustres. Na Rua São Francisco, 241, está a antiga residência de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Transformada em entidade cultural, a Casa de Juscelino preserva móveis, objetos e escritos que remetem à infância de JK.

A exótica escrava Chica da Silva, protagonista de lendas e histórias que ainda permeiam o imaginário popular, também teve sua casa conservada. Erguido no século XVIII, o sobrado tem arquitetura de influência mourisca, com larga varanda composta por painéis treliçados e almofadados e assoalhos de tábuas em estilo colonial. Está localiza em frente à Igreja Nossa Senhora do Carmo, construída por João Fernandes para agradar a escrava.

Com traços característicos da arquitetura árabe, a chamada Casa de Muxurabié possui varanda de treliças e arcos típicos da arte mossárabe da Península Ibérica. No final do século XIX, foi sede do Corpo de Polícia Militar da Província de Minas Gerais. Atualmente, abriga a Biblioteca Pública Antônio Torres.

Passadiço e mercado

Ícone da campanha de tombamento de Diamantina como Patrimônio Cultural da Humanidade, o Passadiço da Rua Glória foi construído em 1878, a mando do Bispo D. João, para ligar os dois sobrados que constituíam o Colégio Nossa Senhora das Dores. O projeto do passadiço, inspirado na Ponte dos Suspiros, de Veneza, foi idealizado e executado pelo então engenheiro do Distrito, Dr. Catão Gomes Jardim. No local, funciona hoje a sede da escola de geologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

Outro símbolo da cidade é o mercado Municipal, ou Mercado Velho, como é conhecido. Construído em 1835 para servir de ponto de encontro dos tropeiros que vinham dos sertões das Minas Gerais, abriga atualmente a Feira dos Produtores Rurais e de Artesanato. Todos os sábados, pela manhã, comunidade e turistas lotam o mercado para apreciar os mais diversos produtos regionais, desde doces e cachaças até artesanato em palha de milho.

Artesanato

E não há como falar de Diamantina sem mencionar seu rico artesanato. Os mais variados tipos de matéria-prima se transformam em pequenos tesouros pelas mãos dos artesãos. As flores sempre-viva viram arranjos, vasos e enfeites; e a as palhas de milho ganham corpo de boneca. As jóias de coco e ouro, famosas pela originalidade e singularidade, encantam os turistas nas vitrines das lojas da cidade.

Merecem destaque ainda os tapetes arraiolo, que já ganharam fama até fora do Brasil. Criadas pelos mouros expulsos de Lisboa no século XVII e instalados no Além Tejo, as peças são confeccionadas com lã cardada de carneiro e tela de juta. Em cada metro quadrado do arraiolo, são reunidos cerca de 70 mil pontos.

Música

A frase de JK resume a alma musical dos diamantinenses. Por que na cidade de Juscelino é assim: a qualquer momento, quem passa pelas ruas pode encontrar um grupo de amigos sentados na beira de um sobrado, ou mesmo percorrendo ladeiras e becos, sempre a tocar e a cantar. E logo aparecem os apreciadores. Nas janelas e nas sacadas, para acompanhar por alguns instantes a passagem da seresta, ou mesmo em rodas informais sentadas na calçada. Os mais fiéis chegam a cantarolar todo o repertório.

A musicalidade de Diamantina está no ar e não tem estilo único. Ritmos variados compõem um acervo que começa pela herança indígena, passa pela experiência européia transmitida pelos colonizadores portugueses e se consolida com a originalidade da música afro, trazida pelos escravos negros.

Tradição musical

A tradição musical é passada de geração para geração, o que pode ser comprovado pelos inúmeros grupos de música que reúnem crianças de todas as idades, adultos e idosos. Exemplo disso é o Arte Miúda Curso Livre de Arte Integrada. Fundada em 1988, a escola desenvolve trabalhos de resgate e divulgação da cultura de Diamantina e região entre crianças de três a 18 anos.

Uma das iniciativas é o projeto “Memória Musical”, que pretende cultivar a tradição seresteira da cidade por meio de encontros entre estudantes e seresteiros experientes em serestas e saraus nas ruas da cidade. Fruto desse trabalho é o Grupo de Seresta Infanto-juvenil da Arte Miúda, que faz apresentações periódicas dentro e fora de Diamantina e já conta com dois CDs gravados. A casa possui ainda grupos musicais de flauta, canto, coral, ritmos, cirandas infantis e folclore.

Criado em 1983, o Regina Pacis é um dos mais tradicionais grupos de seresta da cidade. Com uma atenção especial a compositores diamantinenses, o repertório do grupo reúne músicas em estilo barroco e, vez ou outra, música popular brasileira.

Com cerca de dois mil alunos inscritos, o Conservatório Estadual de Musica Lobo de Mesquita completa 55 anos de fundação em 2006. Com o objetivo de fomentar e divulgar a música e as tradições culturais da cidade, são oferecidos, gratuitamente, cursos de violão, violino, piano, saxofone, flautas e clarinete. Quem deseja estudar no Conservatório precisa apenas passar por um teste de aptidão e estar matriculado regularmente na escola.

Merece destaque ainda, a mais antiga banda da cidade, que leva o nome de Euterpe Diamantinense. Originada em 1927, ela oferece um repertório que mistura marchas, música alegres, e cânticos religiosos —apresentados nas procissões do Encontro, Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores.

Criada a Vesperata

Em 1997, os maestros Irineu de Souza (mais conhecido como Maestro Alex, da Banda Mirim) e major Edson Soares de Oliveira (da Banda de Música do 3o Batalhão de Polícia Militar) trouxeram de volta a Vesperata. Depois de nove anos, a apresentação já está consolidada como um dos principais atrativos turísticos de Diamantina e de Minas Gerais.

Culinária

No cardápio, picadinho com samambaia, escondidinho de carne com ora-pró-nobis, filé com jiló, frango ao molho pardo, feijão tropeiro, costeletas de porco com abacaxi. Receitas passadas de pai para filho, à beira dos fogões de lenha. A culinária de Diamantina é assim: especial, cuidadosa, diversificada e tipicamente mineira.

Nos bares e restaurantes espalhados pelas ruas de pedra, o que não falta são pratos e tira-gostos irresistíveis, acompanhados sempre de uma hospitalidade incomparável e uma boa bebida.

As opções são incontáveis e atendem a todos os gostos e paladares, do mais descontraído ao mais sofisticado. Para quem gosta de uma cachaça de qualidade, comidas de boteco e uma boa conversa, a melhor pedida é o Mercado Velho, que todos os sábados, pela manhã, abriga a feira de hortifrutigranjeiras. Pé de porco com pirão, galope com jiló, batatinhas gratinadas com mussarela e bacon, língua de boi ao molho de vinho, costela no bafo e rabada com andu.

No Armazém do Rosário, as receitas também são tipicamente mineiras. Em um ambiente rústico que lembra uma taberna espanhola, os clientes podem apreciar pratos como o escondidinho de carne de sol com mandioca, ossobuco, polenta de aba de pá e lingüiça recheada com queijo, entre outras delícias.

Lazer

Diamantina também oferece opções de lazer para quem quer apenas bater um papo ou tomar uma bebida. O Café A Baiúca, o mais tradicional da cidade, já completou 45 anos. Aberto durante todo o dia e boa parte da noite, o local é freqüentado tanto pelos moradores idosos, que param para tomar um cafezinho e conferir as notícias nos jornais, quanto pelos jovens que se reúnem para tomar uma cerveja gelada e jogar conversa fora até a madrugada. No Beco da Tecla, o Café e Livraria Espaço B oferece boa música, vinhos e comidas de qualidade além de um clima bem aconchegante.

A diversidade de atrativos do Circuito dos Diamantes

O Circuito Turístico dos Diamantes foi criado apenas em 2005, mas o roteiro já é conhecido há muito tempo. A região é privilegiada. Além de contar com natureza exuberante e belíssimas paisagens, o circuito é rico em história, revela belas cidades e tem uma população que guarda com orgulho as suas tradições e lendas.

Diamantina, Patrimônio Cultural da Humanidade, é ponto de partida para quem pretende conhecer o Circuito dos Diamantes. De lá, é possível escolher as mais variadas opções de roteiros turísticos.

Serro

Um dos mais importantes destinos do circuito é Serro, a 87 quilômetros de Diamantina. A cidade foi a primeira do Brasil que teve o conjunto arquitetônico e urbanístico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1938. As igrejas do Serro, do final do século XVIII, impressionam pelas belas pinturas e refletem bem a riqueza da região na época da mineração.

Outro atrativo da cidade é o queijo do Serro, primeiro patrimônio imaterial de Minas Gerais. A fabricação da iguaria é cheia de segredos guardados pela população local. No entanto, o sabor marcante do queijo seria acentuado, principalmente, pela vegetação e solo que a região possui. O pasto utilizado pelos rebanhos seria o principal responsável pelo gosto característico do leite com o qual é produzido o queijo.

O entorno da cidade também é paraíso para caminhadas ecológicas. Cravada na Serra do Itambé, o visitante do Serro pode aproveitar para conhecer as matas, quedas d’água, e fauna local. O distrito de Milho Verde é uma boa opção de pouso para aqueles que fogem da agitação das cidades. O lugarejo ficou conhecido nos anos 80 e, hoje, é destino obrigatório para quem procura tranqüilidade e proximidade com a natureza.

Ecoturismo

O Circuito Turístico dos Diamantes conta com alguns dos mais belos cenários de Minas Gerais. O clima ameno e a diversidade do cerrado, em algumas áreas intocado, são atrativos para os amantes do ecoturismo. Em Alvorada de Minas, entre Serro e Conceição do Mato Dentro, vale a pena conhecer a Cachoeira da Campina. O local também é perfeito para quem pretende acampar e para os adeptos do alpinismo.

Em Monjolos, um bom programa é conhecer a Reserva do Vale Fundo. A área de preservação ambiental conserva mata ainda virgem e é repleta de cachoeiras e nascentes. Lá também está a Gruta do Lameirão, com grandes galerias de formação calcária. Já em São Gonçalo do Rio Preto, os turistas não podem deixar de conhecer o Parque Estadual do Rio Preto. No local, estão as cachoeiras do Crioulo e Sempre-Viva, além de pinturas rupestres e um magnífico mirante que oferece bela vista da reserva. O parque é abrigo de animais da fauna local, como o tatu-bola, o tamanduá-bandeira e o lobo guará.

Parque do Pico do Itambé

Os 72 mil hectares da área de preservação guardam boas surpresas. No local, existem trilhas e cachoeiras de águas transparentes. A caminhada até o pico é difícil e cobra um bom preparo físico dos aventureiros. Mas vale a pena. A vista do alto do parque reserva grandes surpresas. Outras opções de ecoturismo estão em Senador Modestino, Couto de Magalhães e Presidente Kubitschek. Todas, além de belas paisagens, oferecem variadas quedas d’águas prontas para refrescar os visitantes após longas horas com o pé na estrada.

Já em Datas, é possível conhecer importantes mananciais que abastecem os rios Jequitinhonha e Paraúna. Além do ecoturismo, é possível aproveitar a visita para conhecer a tradição local na fabricação de tapetes arraiolos e arranjos de flores conhecidos em toda a região.

Águas termais

A grande atração de Felício dos Santos, outra cidade do Circuito dos Diamantes, são as fontes de águas quentes que brotam na Fazenda do Sobrado, a nove quilômetros da sede do município. Com temperaturas agradáveis que variam entre 35º e 39º C, as fontes são procuradas por suas propriedades medicinais no tratamento de doenças de peles.

Felício dos Santos também abriga a Cachoeira do Sampaio e do Sumidouro, com mais de 80 metros de queda. A cidade é conhecida ainda por suas tradições folclóricas, como a dança Marujada, tradicionalmente apresentada no mês de agosto durante a Festa do Rosário.

O município de Buenópolis e seus pouco mais de 10 mi habitantes também guardam grandes tesouros. A cidade é conhecida por suas cavernas repletas de registros pré-históricos. No entorno de Buenópolis existem 13 cavernas, seis já exploradas. Além de turistas curiosos, a cidade atrai, constantemente, pesquisadores e espeólogos.

As pinturas rupestres também podem ser vistas em Gouveia, decorando a Lapa Pintada. Outra atração é a cultura dos descendentes de escravos da Comunidade Negra do Espinho. Além de hospitaleiros, os habitantes do lugarejo conservam hábitos de seus antepassados, principalmente os culinários. Lá, é possível experimentar um bolo de fubá servido em folha de bananeira, herança da tribo africana de Kobu.

Festa do Rosário

A exploração do ouro e dos diamantes em Minas, além das muitas riquezas minerais, foi responsável pela consolidação da cultura do Estado que misturava valores católicos portugueses com a beleza e colorida das tradições dos escravos africanos. Até hoje, em muitas cidades do Circuito dos Diamantes, comunidades inteiras se mobilizam para a realização da mais importante celebração folclórica regional: a Festa do Rosário. No início do século XVIII, as irmandades do Rosário dos Negros organizavam o evento que consiste na coroação do rei e rainha do rosário, responsáveis por comandar o cortejo pelas ruas. Ainda hoje, em geral entre os meses de agosto e novembro, é possível acompanhar as coreografias e indumentárias coloridas em louvor a Nossa Senhora. As cortes são divididas em diferentes grupos, cada um com música e bailado próprio, como Congada, Caiapós e Tamboril.